Mark Tansey Monte Sainte Victoire

sábado, 20 de agosto de 2011

Tarefa e significado da crítica

In. ARGAN, Giulio Carlo.  Arte e crítica de arte. Lisboa: Editorial Estampa, 1988 p. 127-130

"Na cultura moderna, a arte é objeto de estudo por parte de uma disciplina autônoma e espacializada: a crítica de arte, que opera segundo metodologias próprias. A crítica de arte tem como fim a interpretação e avaliação das obras artísticas e, ao longo do seu desenvolvimento, deu origem não só a terminologias apropriadas como a autêntica "linguagem especial", que "recorre com insólita freqüência a uma dada secção do léxico e, relativamente ao uso corrente, é rica em termos que derivam de diversas nomeclaturas técnicas e científicas" (De Mauro citado por Argan). As obras artísticas foram sempre objeto de juízos de valor e consideradas como componentes de um patrimônio cultural que exigia atenções particulares por parte da sociedade e dos seus órgãos representativos, interessados em conservá-las, e em transmití-las (mas também, não poucas vezes, em se desfazer delas, em destruí-las, em substituí-las). Desde a antiguidade, desenvolveu-se em torno da arte uma vasta literatura, de caráter diversificado: cronístico ou memorialístico, teórico e preceitual, histórico-biográfico, erudito e filológico, interpretativo ou de comentário. Todavia, foi a partir do Século XVIII e da época do Iluminismo que a literatura sobre a arte tomou a forma de disciplina crítica, desenvolvendo-se a diversos níveis: filosófico, literário, historiográfico, informativo, jornalístico, polêmico. O alto grau de especialização e o peso cultural cada vez maior da arte, na segunda metade do [Século XIX e do XX], demonstram que esta responde a uma necessidade objetiva e não pode ser considerada uma atividade secundária ou auxiliar relativamente à própria arte. é efetivamente impossível entender o sentido e o alcance dos fatos e dos movimentos artísticos contemporâneos sem ter em conta a literatura crítica que a eles se refere. De resto uma parte considerável desta literatura deve-se aos próprios artístas, que frequentemente sentiram a necessidade de acompanhar, justificar e sustentar a sua obra com declarações programáticas e intervenções polêmicas.
O fato de, na situação atual [1988] da cultura, a crítica ser necessária à produção e afirmação da arte, legitima a hipótese de uma espécie de caráter inacabado ou, pelo menos, de uma comunicabilidade não imediata da obra de arte: a crítica desemepenharia assim uma função mediadora, lançaraia uma ponte sobre o vazio que tem vindo criar entre os artistas e  o público, ou seja entre os produtores e os fruidores dos valores artísticos. E esta mediação seria, pois, tanto mais necessária quanto se pretendeque a arte seha acessível a toda a sociedade, uma grande parte da qual vê ainda fechado o acesso à fruição e ao consumo dos produtos da cultura, e, especialmente, da arte: a crítica forneceria assim uma interpretação "justa" ou até mesmo científica das obras de arte, a qual seria válida para todos, sem distinção de classes. Mas, se a função da crítica fosse principalmente explicativa e divulgadora não se explicaria a sua afirmação como ciência ou, noutros casos, como "gênero literário" (...)".


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