Mark Tansey Monte Sainte Victoire

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Arquitetura e Limites (Apresentação)

Bernard Tschumi – Arquitetura e Limites I

Apresentação (do livro de NESBIT, Kate. (org). Uma nova agenda para a arquitetura 1965-1995. São Paulo: Cosacnaify, 2006)

Em 1980 e 1981, a revista nova-iorquina de arte ArtForum publicou uma série de três números especiais sobre arquitetura, organizados e apresentados por Bernard Tschumi[1]. A maior parte dos artigos da série “Arquitetura e limites” foi escrita por autores que participam desta coletânea, como Peter Eisenman, Rem Koolhaas, Anthony Vidler, Raimundo Abraam e Kenneth Frampton.

Em uma breve introdução, Tschumi resume as principais questões teóricas em debate naquele momento: qual a característica peculiar ou a essência da arquitetura como disciplina? Será o uso (função) ou o processo de construção? Como se determinam as fronteiras da arquitetura? É verdade que temos que escolher entre o genius loci e o Zeitgeist, como preconizam os fenomenólogos e os historicistas (caps. 4 e 9), ou a escolha deve se dar antes entre as preocupações sociais e a autonomia? (cap. 8).

Um tema reiterado nos três ensaios introdutórios, e que os torna relevantes para a teoria e o projeto contemporâneos, é a crítica do formalismo. Em “Arquitetura e limites I”, Tschumi defende uma atitude de resistência ao “estreitamento da arquitetura como forma de conhecimento a uma arquitetura que é mero conhecimento da forma”. Para ele, a teoria e a crítica contemporâneas são, de modo geral, reducionistas e condicionadas por “ideologias”como o formalismo, o funcionalismo e o racionalismo.

O uso do conceito de limite no título da série é significativo. Tschumi explica no primeiro ensaio que “os limites são áreas estratégicas da arquitetura”, são a base a partir da qual se pode compreender uma crítica das condições existentes. Essa idéia é fundamental para a reflexão pós-estruturalista e desconstrucionista, uma vez que ambas propõem que os conteúdos marginais (de textos ou de disciplinas) são mais importantes do que a sua localização sugere. Isso significa dizer que com esforços cuidadosos é possível trazer à luz os conteúdos reprimidos de uma obra e atingir uma nova interpretação. Tschumi recomenda que se use esse enfoque crítico para contestar as atitudes “reducionistas” que operam no sentido de eliminar as diferenças e atacar as obras de fronteira. As histórias da arquitetura que se baseiam em uma concepção linear entre causa e efeito são exemplos do pensamento reducionista. Ele sustenta que, sem limites, a arquitetura não poderia existir. “Cancelar os limites [...] é cancelar toda a arquitetura”. Mas esses limites, apesar de necessários, parecem um convite à transgressão, o que Tschumi descreve como uma prática crítica válida.

Uma das afirmações mais controvertidas de Tschumi, desenvolvida mais longamente em “O prazer da arquitetura”(cap. 13), é que, estritamente falando, a utilidade pode não ser necessária para a arquitetura, ainda que, segundo ele, a utilitas seja um componente da construção. Só que ele estabelece uma distinção entre construção e arquitetura com base no papel do desenho em cada uma: enquanto a arquitetura depende da existência de desenhos e textos, a construção não precisa disso. Mais ainda, a arquitetura vai além da construção para tornar-se conhecimento. Muitos de seus contemporâneos pós-modernos também mobilizam essa diferença entre construção e arquitetura.

O arquivo “Arquitetura e limites II” retoma alguns aspectos da tradição da disciplina para determinar se eles restringem o desenvolvimento da arquitetura, e “Arquitetura e limites III” focaliza as novas definições do programa em arquitetura.
[1] Na época, a revista tinha uma perspectiva interdisciplinar e teórica, tendo publicado, por exemplo, os importantes artigos do teórico pós-moderno Jean-François Lyotard sobre o sublime e a arte moderna, relacionado em minha bibliografia.

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