Mark Tansey Monte Sainte Victoire

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Mímese: Platão e Aristóteles

A arte opera o encantamento do ilusionista Platão, A República

— Considera então o seguinte. Que objetivo propõe-se a pintura com relação a cada objeto? O de representar o que é tal como é ou o que parece tal como parece; a imitação da aparência ou da realidade?

Da aparência, diz ele.

A arte de imitar está, então, bem distante da verdade e se pode tudo executar, no que parece, é porque atinge apenas uma pequena parte de cada coisa, e essa parte não é mais que um fantasma. Podemos dizer, por exemplo, que o pbror pintará um sapateiro, um carpinteiro ou algum outro artífice, sem conhecer o ofício de nenhum deles; mas nem por isso , se for bom pintor, deixará de iludir as crianças e os ignorantes, pintando um carpinteiro e mostrando-o de longe, porque lhe é dado a aparência de um autêntico carpinteiro.

‑ Tomemos, portanto, como certo, que todos os poetas, a começar de Homero, tenham suas invenções a virtude ou qualquer outra coisa como objeto, são apenas imitadores de imagens e não alcançam a verdade; é assim que um pintor fará, como dizíamos há pouco, sem nada entender de fazer sapatos, um sapateiro que parecerá verdadeiro àqueles que tanto quanto ele, nada entendem disso mas julgam pela cor e pela forma (....)

‑ Do mesmo modo diremos, creio eu, que o poeta, por meio de palavras e frases, reveste cada uma das artes com as cores que lhe convém, sem delas entender mais que a imitação, se bem que pessoas como ele, que julgam só pelas palavras, quando o ouvem falar, com os prestígios da medida, do ritmo e da harmonia, seja da arte de fazer sapatos, da condução dos exércitos ou de outro assumo qualquer, consideram que ele fala com muita pertinência, tanto esses ornamentos possuem em si mesmos um encanto natural; mas, se despojamos as obras dos poetas das cores da poesia e as recitamos reduzidas a si mesmas, sabes, eu creio, que figura fazem; já percebestes isso, sem dúvida.

Pode-se compará-las àqueles rostos que, não modo outra beleza além do próprio frescor, deixam de atrair os olhos quando a flor da juventude os abandonou.



imitar está em nossa natureza

Aristóteles, Poética

Imitar é inerente à natureza humana desde a infância; e o que faz o homem diferir dos outros animais é que ele é mais inclinado a imitação: os primeiros conhecimentos que adquire, deve-os à imitação, e todo mundo aprecia as imitações. A prova disso é o que acontece com relação as obras artísticas, pois as mesmas coisas que vemos com pena, comprazemo-nos em contemplar na sua exata representação, tal, por exemplo, como a forma dos animais mais vis e a dos cadáveres. Isso deve-se ao fato de que aprender é o que existe de mais agradável não apenas para os filósofos mas também para os outros homens; só que estes tomam apenas uma pequena parte nesse prazer. E, com efeito, se nos apraz ver representações de objetos, é porque essa contemplação nos instrui e nos faz refletir sobre a natureza de cada coisa, como, por exemplo, que tal homem e um tal; tanto mais que, se porventura não se previu o que sobreviverá, não será a representação que produzirá o prazer experimentado, mas antes o artifício, ou a cor, ou qualquer outra consideração Como imitar, tal como a harmonia e o ritmo, está em nossa natureza (...); desde o principio, os homens que tinham mais pendor natural para essas coisas fizeram, através de lenta progressão, nascer a poesia, começando com improvisação.

À tragédia é a imitação de uma ação grave e completa que tem uma certa extensão, apresentada, numa linguagem tornada agradável e de maneira tal, que cada uma das partes que a compõem subsiste separadamente, desenvolvendo-se com personagens que agem e não por meio de uma narração, operando pela piedade e pelo terror a purgação das paixões da mesma natureza

Entendo por “linguagem tornada agradável” a que reúne o ritmo, a harmonia e o canto, e pelas palavras “que cada parte subsiste separadamente” entendo que algumas dentre elas são ordenadas somente através dos metros e outras, por sua vez, pela melodia.


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