Mark Tansey Monte Sainte Victoire

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O problema do objeto da crítica

A pergunta qual o objeto da crítica de arte, pistas para elaboração dos termos.

(...) toda maneira, para o homem, de encontrar o objeto é, e não passa disso, a continuação de uma tendência que se trata de um objeto perdido, de um objeto a se reencontrar. Jacques Lacan

Objeto do lat. objectus,us 'ação de pôr diante, interposição, obstáculo, barreira; objeto que se apresenta aos olhos'. (Houaiss).


A frase do Jacques Lacan se refere à relação entre sujeito e objeto, cujo esforço de busca, um procedimento de repetição, traz consigo a contradição da impossibilidade da recuperação deste mesmo objeto, e o conflito inerente em toda busca do objeto, da repetição sempre procurada e nunca satisfeita. Confirmando, uma transformação da posição de sujeito e objeto, de acordo com Jean Baudrillard “O sujeito só pode desejar; o objeto é o único que pode seduzir”, “o objeto é o que desapareceu do sujeito e desde o fundo dessa desaparição envolve o sujeito em sua estratégia fatal”. Entretanto, no quadro da racionalidade, do cientificismo, a pergunta pelo objeto de uma disciplina, uma prática discursiva, uma ciência se colocam assim como pela objetividade e objetivos se colocam ainda.

A crítica de arte está conectado ao seu objeto, a preposição de implica relação. Enquanto para a arte e para a arquitetura propriamente, a relação aos objetos é tão conflituosa, ambígua, problemática quanto indicam Lacan e Baudrillard.

"A arte não tem um só objeto, mas objetos; não tem uma só metodologia, mas metodologias; e não tenta validar os instrumentos lingüísticos para a aquisição de conhecimento específico, já que ela é, geralmente, uma experimentação que amplia as fronteiras da linguagem" (Medeiros, 2007). Para a arquitetura cabe algo semelhante, o objeto que se pretende(u) absoluto e único é clássico, diferencia-se do seu entorno pela precisão de suas partes constituintes e pela clara demarcação de seus limites (ordem). A arquitetura clássica, “em contraste com o que a rodeia é completa e total, tem unidade (Tzonis, Lefraive e Bilodeau, 1984). Depois disso, objetos se sucedem: espaço, habitat, etc, dependendo do ponto de vista que a "contempla".

Outra problemática é que "a crítica moderna filia-se à subjetividade romântica e todas as suas oposições'" e ainda sínteses. Embora o chamado "posmodernismo" rejeite tal subjetividade paradoxalmente exarcerba o individualismo. Sophia Telles diz, entretanto: "finalmente a obra pode ser lida como uma operação sem sujeito". Sophia Telles diz “(...), a tragédia pós-moderna é enfrentar o enigma do indivíduo sem subjetividade.”

Objeto, objetivos, objetividade/ definições
No Dicionário de filosofia de Durozoi e Roussel objeto é definido etimologicamente: o que é jogado a frente daí é o que se opõe ao sujeito como sendo suscetível de experiência e diferente do modo como o sujeito o apreende. Também definem objeto como qualquer realidade concreta identificável; meta, fim que se visa na ação ou reflexão, ainda objeto de uma ciência, de um texto, de uma paixão.

Denominam objetivo o que tem relação com o objeto e se coloca diante daquele que olha no sentido etimológico.

Durozoi e Roussel definem objetividade àquilo que concerne ao que é objetivo, realizado pelo espírito; sinônimo de racionalidade e diferente de digressão, oposta a subjetividade. Objetividade requer imparcialidade do sujeito que conhece e exige procedimentos de observação e de experimentação que garantam a validade da observação, das operações da investigação científica, a objetividade depende disso.

Objetivação, segundo Durozoi e Roussel, é um processo segundo o qual a consciência exterioriza suas sensações em objetos supõe a mediação da linguagem.




Referências
BAUDRILLARD, Jean. As estratégias fatais. Lisboa: Estampa
DUROZOI & ROUSSEL. Dicionário de Filosofia. Porto : Porto Editora, 2000.
LACAN, J. O Seminário. A Relação de Objeto. Livro 4. p.13
MEDEIROS, Afonso. Arte & ciência: simetrias e assimetrias das concepções conhecimento. 16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais – Florianópolis, 2007
Tzonis, Lefraive e Bilodeau . El clasicismo en arquitectura: la poética del orden. Madrid: Herman Blume, 1984

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