Mark Tansey Monte Sainte Victoire

domingo, 11 de setembro de 2011

Sobre a Farmácia de Platão de Derrida

Trechos de Edson Rosa da Silva (UFRJ ) Sobre Derrida &Platão
Famácia de Platão. Derrida. Iluminuras

 "[... ] A maior preocupação será não escrever, mas aprender de cor, pois é impossível que os escritos não acabem por cair no domínio público. Por isso, para a posteridade, eu mesmo não escrevi sobre tais questões. Não há obra de Platão e jamais  haverá uma. O que atualmente se designa sob esse nome de Sócrates, no tempo de sua be1a juventude. Adeus e obedece-me. Tão logo tenhas lido esta carta, queima-a." Platão

" (...) a escrita, enquanto transcrição gráfica da palavra do pai, é vista por Platão como secundária e inferior, como filha bastarda. O logos é o saber vivo; o livro -conjunto de saberes acumulados e guardados pela palavra escrita -é um simulacro de saber. Por isso, diz Tamus que os discípulos de Theuth «parecerão ter muita ciência, enquanto que, na maioria dos casos, não terão nenhuma», já que terão aprendido de cor «as histórias acumuladas, as nomenclaturas, as receitas e as fórmulas». Ou seja: terão lido o saber escrito; não terão ouvido a palavra do mestre, porta-voz da verdade e da ciência, a única forma, pelo que se depreende do discurso de Tamus, de se transmitir um saber vivo e verdadeiro. Por isso, a ciência de quem lê é um simulacro; só quem se locupleta do verbo divino é realmente sábio. "

Quando Platão teme que o texto escrito caia no domínio público, teme que os significantes escapem ao pai e que o recontar dos contos contem uma outra história. (...) . Daí, a proteção divina do verbo do Pai. O centramento. O sacrário. A redução de tudo a um ponto: a uma origem. Assim é possível preservar a origem e a verdade. .Com efeito, tal verdade e tal origem não podem ser preservadas. O phármakon -na sua dupla potencialidade -as destrói, e permite-nos escrever uma outra história.
"O advento da escritura é o advento do jogo; o jogo hoje entrega-se a si mesmo, apagando o limite a partir do qual acreditou-se poder regular a circulação dos signos, arrastando com ele todos os significados seguros, reduzindo todas as áreas de segurança, todos os abrigos de quem não podia jogar, tudo o que vigiava o campo da linguagem."

Não há remédio inofensivo. O phármakon não pode jamais ser simplesmente benéfico. (...) A essência ou a virtude benéfica de um phármakon não o impede de ser doloroso. (...) Esta dolorosa fruição, ligada tanto à doença quanto ao apaziguamento, é um phármakon em si. Ela participa ao mesmo tempo do bem e do mal, do agradável e do desagradável. Ou, antes, é no seu elemento que se desenham essas oposições. (DERRIDA, 1987, p. 56-7).
 "Eles [os túpoi, as marcas] o representarão, mesmo que ele os esqueça, eles levarão sua fala, mesmo que ele não esteja mais lá para animá-los. Mesmo que esteja morto, e só um phármakon pode deter um tal poder sobre a morte, sem dúvida, mas também em conluio com ela. O phármakon e a escritura são, pois, sempre questão de vida ou de morte. (DERRIDA, 1987, p. 52)."
«Sócrates, aquele que não escreve». No Fédon, o phármak'on aparece como o filtro do conhecimento, antídoto, dialética.
"É esse phármakon invertido, agora dialético, que vai penetrar na alma daqueles que ouvem Sócrates, sob a forma de belos discursos, caminho para a sabedoria. O logos socrático, enquanto manteia (pharmakeus), palavra divinatória, transformadora, fundamenta em filosofia, pisteme, uma prática empírica. Tal atitude já havia sido prenunciada no início do Fedro, quando Sócrates denuncia a insuficiência do conhecimento em favor do preceito délfico «conhece-te a ti mesmo""

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