Mark Tansey Monte Sainte Victoire

domingo, 18 de setembro de 2011

Agonística: Platão, Niezsche e Deleuze

Gilles Deleuze em "Platão, os gregos" diz que a proposta do platonismo aparece como doutrina seletiva, seleção dos pretendentes, dos rivais.
De certo modo ele próprio também seleciona com quem dialoga: Niezsche aparece entre os primeiros.
Deleuze diz: "A Idéia é por Platão como o que possui uma qualidade primeiro (necessária e universalmente); ela deverá permitir, graça à provas, a determinar o que possui uma qualidade em segundo, terceiro, segundo a natureza da participação.  (...) a sofística como seu inimigo, mas também como seu limite e seu duplo: porque ele pretende a tudo ou a não importa o que, o sofista arrisca fortemente a embaralhar a seleção, a perverter o julgamento. Estes são preenchidos, povoados por sociedades de amigos, isto é, de livres rivais, cujas pretensões entram cada vez mais em um agôn emulante e se exercem nos domínios mais diversos: amor, atletismo, política, magistraturas. Um tal regime acarreta evidentemente uma importância determinante da opinião. Vemos isso particularmente no caso de Atenas e de sua democracia: autoctonia, philia, doxa são os três traços fundamentais, e as condições sob as quais nasce e se desenvolver a filosofia.
A agonística, que teria alcançado na Grécia Antiga um patamar insuperável, se imortalizando através das narrativas épicas de Homero, da poesia cosmogônica de Hesíodo e da filosofia de Heráclito de Éfeso.
De modo que, a partir da influência que adquiriu através do estudo das obras desses três grandes gênios da cultura grega, Nietzsche desenvolverá a sua própria perspectiva de disputa, espírito de competição e rivalidade."
A agonística, que teria alcançado na Grécia Antiga um patamar insuperável, se imortalizando através das narrativas épicas de Homero, da poesia cosmogônica de Hesíodo e da filosofia de Heráclito de Éfeso.
De modo que, a partir da influência que adquiriu através do estudo das obras desses três grandes gênios da cultura grega, Nietzsche desenvolverá a sua própria perspectiva de disputa, espírito de competição e rivalidade.

Nietzsche é fascinado com a questão da agonística grega: "Heráclito considerava que a essência do universo seria constituída por um constante conflito de forças, e que as transformações da realidade, inseridas no grande devir cósmico, decorreriam necessariamente dessa característica primordial, intrinsecamente presente em todo o universo, conforme comprova sua célebre sentença", de que “o combate ( polémos ) é de todas as coisas pai, de todas rei, e a uns revelou deuses, a outros, homens; de uns fez escravos, de outros, homens livres.”)
Nietzsche, fascinado com a questão da agonística grega, interpreta o sentido da disputa em Heráclito de um modo muito perspicaz: detecta a transformação do espírito da luta, presente no plano das ações cotidianas, para a dimensão universal, tornando-se assim um princípio cosmogônico.
As disputas entre os homens nos seus diversos ramos de atividades seriam o reflexo mais fulgurante desse conflito cósmico primordial, que possibilita a transformação contínua de todas as coisas através do devir.
E essa nobre força se desenvolve através da superação dos limites, motivada pela afirmação de uma agonística saudável, que preconiza o respeito ao oponente, aquele que possibilita a nossa própria afirmação, uma vez que, com o rival, instauramos uma nobre relação de forças. Desse modo, tal situação Homero, Hesíodo e Heráclito souberam representar, afirmando através de suas obras a beleza de um mundo povoado por homens de valor e regido por uma justiça cósmica que promove a harmonia através da interação entre os contrários.Em suma, os três gênios da agonística grega encontraram no helenista Nietzsche a voz moderna do sentimento de disputa, que o filósofo alemão soube expressar e honrar de modo tão grandioso em seus escritos.

BITTENCOURT, Renato Nunes. O sentido da agonística para a vida ou a disputa de Nietzsche. Morpheus. Revista Eletrônica em Ciências Humanas - Conhecimento e Sociedade. In http://www.unirio.br/morpheusonline/renato%20nunes.htm
CAUQUELIN, Anne. Teorias da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
DELEUZE, Gilles. Platão, os gregos. In Crítica e Clínica. Tradução de Peter P. Pelbart S. Paulo: Editora 34, 1997.
MACHADO, Roberto. Deleuze, arte e a filosofia. Rio de Janeiro, 2010

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