Mark Tansey Monte Sainte Victoire

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A imaginação, a louca da casa 1

Recomeçamos com as mesmas questões levantadas por Anne Cauquelin sobre as teorias da arte: Tratam-se de teorias no sentido geralmente atribuído ao termo, ou seja, de teorias científicas? A arte não é incompatível com um tratamento científico? Não é melhor ignorar essas teorias?
Reiterando a Obsessão pela teoria da arte desde Platão retificada pelo neoplatônicos que conduzem a arte a via acesso ao reino das idéias.
"A arte abre a visão do todo. A beleza é chave da compreensão". Com a reafirmação do Neoplatonismo o artista se volta para a idéia do Belo, que nada mais é do que manifestação do esplendor do divino que o artista deveria reproduzir por meio da mímese (GROULIER).“De fato, foi negado um privilégio ao artísta: a faculdade original de criar, uma vez que esta pertence exclusivamente a Deus” (GROULIER, p. 10).
Ou seja, a imaginação era "regulada".
Com Flusser vimos que a imaginação é anterior à fala e à escrita. Por outro lado, o controle do imaginário teve sempre um caráter ideológico indissociável do duo poder/saber . Sendo que antes da proliferação midiática das imagens, a imaginação era sempre ‘a louca da casa'. Servem de base a este 'discurso' O argumento negativo ou cético que coloca em dúvida as percepções dos sentidos ou o conhecimento que podemos ter das coisas. Argumento epistemológico já apresentado por Platão, Montaigne, entre outros. Entretanto, ao ser apresentado por Descartes o argumento ganha uma nova dimensão, uma face 'nova' é colocada pelo filósofo: "a sua capacidade de questionar a existência do mundo exterior. (Azizi)"
No século XVI, a loucura possuía um estatuto diferente, em relação ao século XVII. Um exemplo, é a filosofia de Montaigne, onde o ser louco e o não ser louco não era tido como uma certeza.
Não havia a certeza sólida da loucura e da desrazão dos homens, todos poderiam ser e não se ao mesmo tempo, loucos e sensatos. Não existe cisão definitiva. “Entre todas as outras formas de ilusão, a loucura traça um dos caminhos da dúvida dos mais freqüentados pelo século XVI. Nunca se tem certeza de não estar sonhando, nunca existe uma certeza de não ser louco (Montaigne apud Azizi)”.
"Em Descartes, já no século XVII, essa cisão acontece. “A loucura implica a si própria”, e se exclui da razão. Loucura e razão se negam, pois, se sou louco, não penso e nem existo, e se penso, existo e não sou louco. A loucura não diz respeito à razão, (não mais) e se exclui do caminho da dúvida, que leva ao conhecimento. Mais uma vez, se duvido, não sou louco.
Se com Montaigne, fiar-se unicamente na razão como forma de descobrir a verdade era insensatez, com Descartes ocorre o oposto. É necessário guiar nossos conhecimentos unicamente através do crivo da razão, do pensamento, que determina quem eu sou e, em última instância, se sou realmente. Com Descartes, então, há uma reviravolta, há uma fronteira explícita onde os racionais e os desarrazoados não possuem contatos, são antagônicos e não fazem parte nem de um e nem de outro simultaneamente, estão fadados a distanciarem-se para nunca mais se encontrar.A condição de possibilidade de um discurso sobre a loucura, portanto, está dada, para na modernidade (metade do séc. XVIII até hoje, para Foucault), e também para a concepção de loucura como doença mental.(Azizi)"
No caminho da dúvida, Descartes, no interior de seu método, desabilitará a confiança nos sentidos como forma de se adquirir um conhecimento verdadeiro e sólido: “Tudo o que recebi, até presentemente, como mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos : ora, experimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou alguma vez (Azizi)”.
Descartes parte da dúvida chamada metódica, porque ela é proposta como uma via para se chegar à certeza. Descartes argumenta que tais idéias em geral são incertas e instáveis, sujeitas à imperfeição dos sentidos. Algumas, porém, se apresentam ao espírito com nitidez e estabilidade, e ocorrem a todas as pessoas da mesma maneira, independentes das experiências dos sentidos, e isto significa que residem na mente de todas as pessoas e são inatas.Descartes foi levado a verificar que "o costume e o exemplo nos persuadem mais do que um conhecimento certo". Método significa, etimologicamente, caminho. Seguir um método corresponde, pois, a caminhar em direção determinada, quer dizer, com a consciência do fim a que se quer chegar.
As preocupações de Descartes engendraram um método que, incluindo as vantagens da lógica, da geometria e da álgebra,evitasse, ao mesmo tempo, os seus inconvenientes. Formula, então, as famosas quatro regras fundamentais, que deverão desdobrar-se e multiplicar-se nas Regras para a direção do Engenho.
Primeira regra: evitar a prevenção e a precipitação,só aceitando como verdadeiras as coisas conhecidas de modo evidente como tais enão admitir no juízo senão o que se apresentasse clara e distintamente,excluindo qualquer dúvida.
Segunda: dividir cada dificuldade em tantas parcelas quanto seja possível e quantas sejam necessárias para resolvê-las.
Terceira:Conduzir em ordem os pensamentos, começando pelos mais simples e mais fáceis de conhecer, a fim de ascender, pouco a pouco, por degraus, até o conhecimento do smais compostos, supondo uma ordem mesmo entre aqueles que não precedem naturalmente uns aos outros.
Quarta: fazer sempre inventários tão completos e revisões tão gerais que se fique certo de nada ter omitido.
Aqui Descartes constitui o preceito metodológico básico – é que só se considere verdadeiro o que for evidente, ou seja, o que for intuível com clareza e precisão, e,conseqüentemente, adequado à pronta aplicação do preceito da evidência.

Na primeira regra, está enunciado o que, para Descartes, é o critério da verdade, a clareza e a distinção das idéias. Essa expressão é repetida ao longo de toda obra de Descartes, como uma das teses fundamentais de sua teoria do conhecimento. A razão cartesiana é a matemática que, no plano do pensamento, e sem sair do pensamento, extrai, ou deduz, as idéias umas das outras, com a certeza de que, sendo essas idéias claras e distintas e achando-se dispostas em ordem contínua e ininterrupta, devem necessariamente corresponder à ordem em que se acham dispostas as próprias coisas.ordem contínua e ininterrupta, devem necessariamente corresponder à ordem em que se acham dispostas as próprias coisas.

GROULIER,  Jean-François.  Da imitação à expressão In.  A pintura. Vol. 5. Da imitação a expressão. Editora 35, 2004
Diego AZIZI, Diego. O elogio do sofrimento. http://projetophronesis.wordpress.com/category/filosofia-moderna/montaigne-filosofia-moderna/

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