Mark Tansey Monte Sainte Victoire

terça-feira, 20 de setembro de 2011

3 críticas ao cartesianismo

Humberto Maturana define "emoções" como disposições corporais para um agir. Ele justifica tal definição apontando que, na vida cotidiana, o que distinguimos com a palavra "emoção" são condutas, distintos domínios de ações através dos quais nos movemos. ... o que distinguimos biologicamente ao distinguir distintas emoções, são distintas dinâmicas corporais (incluindo o sistema nervoso) que especificam em cada instante as ações como tipos de conduta, medo, agressão, ternura, indiferença... que um animal pode realizar neste instante. Dito de outro modo, é a emoção (domínio de ação) a partir do qual se realiza ou se recebe um fazer, o que dá a esse fazer o seu caráter como uma ação (agressão, carícia, fuga) ou outra. Por isso nós dizemos: se queres conhecer a emoção observa a ação, e se queres conhecer a ação observa a emoção.
... o que conotamos quando falamos de emoções são distintos domínios de ações possíveis nas pessoas e animais, e as distintas disposições corporais que os constituem e realizam. Por isso mesmo, afirmo que não há ação humana sem uma emoção que a funda enquanto tal e a faz possível como ato.

Na reflexão de Merleau-Ponty (filósofo francês, 1908-1961) encontramos um esforço de retorno à fonte originária de onde brota a própria interrogação filosófica. Essa fonte originária reside naquilo a que Merleau-Ponty denomina de fé perceptiva e que, antecedendo a própria reflexão, é, portanto, de natureza pré-reflexiva e pré-judicativa. A tradição filosófica, ao distanciar-se dessa origem, deu lugar a cristalizações dicotômicas (sensível/ inteligível, corpo/ alma, a priori/ a posteriori, sujeito/objecto...) que não nos permitem aceder à compreensão do permanente enraizamento da consciência no mundo. O retorno a este enraizamento, tentativa de radicalidade e aprofundamento, exige uma reabilitação do corpo e do sensível. Rejeitando, quer uma visão racionalista, quer uma visão empirista, o corpo de que este filósofo nos fala não é a máquina que um cogito desencarnado comandaria O corpo não é, também, o corpo-objecto que a ciência disseca, mas sim o corpo fenomenal. É este corpo que realiza a síntese perceptiva e intersensorial: essa espécie de sabedoria prévia à reflexão, que está incrustada no mundo e a ele nos permite aceder.
O supracitado afastamento do Cogito, pode ser entendido como uma espécie de contraposição ontológica e gnosiológica que este direciona à transcendência e exterioridade incognoscível da Natureza, abandonando-a à confusão da sua imediatidade corpórea, para transcendê-la, e deste alto, assombrá-la, isto é, idealizá-la. Deste modo, o Cogito desconsidera ou retira da Natureza a sua “carne” (leibhaft) para, num processo de mumificação, preenchê-la com idéias, reduzindo-a a um quadro que retrata, como num jogo entre sombra e luz, os vultos pincelados do Cogito, ou seja, reduzindo-a a uma representação, a uma casca desprovida de conteúdo significante, a uma condição ontológica tão precária que, como uma múmia sem corpo necessita do corpo alheio, ela necessita do intelecto para ser verdadeiramente, para existir não de uma forma confusa, mas clara e distintamente. A reflexão cartesiana se retira do mundo, fazendo de si mesma a unidade de consciência como fundamento do mundo, ela “arrebata-se e  Merleau Ponty.

A intuição é o método usado por Henri Bergson para apreender aquilo que faz a coisa ser o que ela é, em sua diferença a respeito de tudo aquilo que não é ela. A intuição já pressupõe a duração na medida em que a diferen­ça interna da coisa é diferença em relação a si mesma, pois ao diferen­ciar-se ela muda de natureza fazendo tensionar ou distender a própria duração. A intuição é o movimento por meio do qual saímos de nossa própria duração para afirmarmos ou reconhecermos imediatamente a existência de outras durações ou de diferenças de natureza.
Desse modo, é na duração que se dão as diferenças de natureza (alteração), melhor, ela é a multiplicidade das diferenças, enquanto que o espaço não é mais que o lugar e o conjunto das diferenças de grau (aumento e diminuição). A intuição é o movimento por meio do qual saímos de nossa própria duração para afirmarmos ou reconhecermos imediatamente a existência de outras durações ou de diferenças de natureza. Apenas por meio dela somos capazes de apresentar os verdadeiros problemas e de nos livrar da ilusão propiciada pelos mistos que se apresentam como diferenças de grau na nossa experiência primeira do mundo, isto é, na matéria e na extensão. A experiência sempre propicia um misto de espaço e duração; vimos, porém, que se trata em Bergson de ultrapassar a experiência vivida, restaurando as coisas em seu dado imediato. Para isso, é preciso dividir o misto, reencontrar a diferença da coisa, aquilo que a faz ser o que ela é. Vimos também que tal divisão do misto espaço e duração leva a duas direções das quais somente uma é pura, sendo o espaço a impureza que desnatura a duração.

Refências explícitas:

FERRY, Luc. Homo Aestheticus. A Invenção do Gosto na Era Democrática. São Paulo: Ática, 1994
HAAR, Michel. A obra de arte. Ensaio sobre a Ontologia das obras. Rio de Janeiro: Difel, 2000
GRACIANO, Miriam Monteiro de Castro. A teoria biológica de humberto maturana e sua repercussão filosófica. Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre.  In. http://www.inf.ufsc.br/~mariani/autopoiese/tese/teseint.html
Carlos, Luisa. Visão em Merleau-ponty

Nenhum comentário: